segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pesquisas mostram benefícios do convívio com animais

A medicina parece estar aumentando suas apostas no papel que os animais podem ter além do convívio com os homens. Hoje, no Brasil, as universidades têm aberto mais as portas para experiências que queiram comprovar a eficácia da zooterapia. O assunto vai entrar pela porta da frente na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo. Neste segundo semestre, a disciplina de zooterapia será incluída no currículo dos alunos do segundo ano. As aulas, que começam no mês que vem –por causa do atraso provocado pelos 106 dias de greve no primeiro semestre– já estão com as vagas esgotadas.

“O assunto é novo por aqui e faltam pesquisas na área, por isso vamos iniciar o curso. Os médicos ainda são muito céticos em relação a essa terapia. É preciso prová-la por meio de uma metodologia científica”, diz a veterinária Maria de Fátima Martins, professora da USP, no campus de Pirassununga, interior de São Paulo. Na UnB (Universidade de Brasília), desde março, uma equipe de veterinários e médicos estuda os efeitos da terapia mediada por cães no tratamento de pacientes com mal de Alzheimer, doença degenerativa que causa a morte dos neurônios e que tem como sintoma inicial a perda da memória imediata.

Todas às quartas-feiras pela manhã, os cães Ventus, um boiadeiro bernês de sete anos, e Barney, um golden retriever de um ano e meio, frequentam o Centro de Referência para os Portadores da Doença de Alzheimer, que funciona no Centro de Medicina do Idoso do hospital universitário, onde os pacientes participam de sessões de fisioterapia e trabalham com a ajuda de neuropsicólogos e psiquiatras.

Segundo o geriatra Renato Maia, coordenador do centro, os resultados são visíveis. O fato de os pacientes se lembrarem dos cães no início e no final da sessão, por exemplo, já é considerado um grande feito para quem tem esse tipo de doença. “À medida que são expostos, os pacientes apresentam uma recuperação imediata da memória. Lembram de fatos que nem sempre discutem com a psicóloga. Muitos deles também voltaram a falar, algo que não faziam mais.”

O projeto da UnB já atendeu 32 pessoas. “Estamos agora computando os dados. A mudança no humor dos pacientes é evidente, mas queremos mais informações. No exterior, a terapia com animais em contato com crianças é mais desenvolvida. Já vi estudos que mostraram, por exemplo, como a zooterapia reduziu o consumo de analgésicos entre os pequenos pacientes de oncologia. Com relação aos idosos, ainda falta muito”, diz Maia.

Pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária, em parceira com a Faculdade de Odontologia, ambas da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), do campus de Araçatuba, iniciaram, em 2003, um projeto de pesquisa para investigar as reações que os animais provocam em crianças com necessidades especiais, como as que sofreram paralisia cerebral, as portadoras da síndrome de Down e de outros tipos de comprometimento mental. Desde outubro passado, Spike, Cacau e Monalisa, cães labradores, e Raja, um golden retriever, passeiam com seus proprietários pela sala de espera do setor de atendimento ao público da Faculdade de Odontologia. “Eles ajudam as crianças a se distraírem e as acalmam”, diz a médica veterinária Valéria Nobre, uma das responsáveis pelo projeto.

“Antes, alguns pacientes podiam ser atendidos apenas mediante sedação. Hoje, isso mudou. Os mais agitados depositam a ansiedade nos cães e entram mais tranquilos na sala da dentista, o que prova que é mesmo possível reduzir o uso de medicamentos”, comemora Valéria, que busca mais informações para concluir a pesquisa sobre o tema.

Apesar de o interesse pela área da zooterapia ser recente no país, ela já rende bons frutos na prática. Quem prova a tese é a aposentada Maria Marques, 84, que, com a ajuda de um cão, teve sucesso em suas sessões de fisioterapia. “Antes sentia dor. Com as sessões com Dim-Di [um golden retriever de três anos], minha perna voltou a mexer”, diz ela.

Maria também faz parte de um projeto que tenta provar que os animais fazem jus ao título “melhor amigo do homem”. O método utilizado na fisioterapia que ela faz é fruto do trabalho de conclusão de curso do fisioterapeuta Vinícius Fava Ribeiro, que teve a ideia de usar os cães como uma ferramenta.

Segundo Ribeiro, o cão é usado como estímulo em todos os exercícios das sessões de fisioterapia. “Quando escovam o animal ou brincam com ele, os pacientes trabalham o equilíbrio e estimulam a coordenação motora”, afirma.

A também fisioterapeuta Claudinea Guedes Hanashiro, parceira de Ribeiro, conta que a presença do animal não só serviu de estímulo aos pacientes para que não faltassem às sessões mas trouxe resultados positivos para a melhora da saúde física e mental dos participantes. “Uma de nossas pacientes, que teve derrame, não mexia a mão direita durante as sessões de fisioterapia convencional. Hoje, ela movimenta a mão quando o cão está presente”, diz.

“Outra paciente tem depressão e vive em estado de dormência, não reage a nada, a não ser quando o cão se aproxima. Aí, ela abre os olhos e até pronuncia algumas palavras”, afirma Claudinea.

Diante dos bons resultados do trabalho de Ribeiro, o Cão do Idoso –um projeto iniciado em 2000 por voluntários, em que cães são levados a asilos em São Paulo– adotou a técnica. Hoje, o projeto atende cerca de 150 idosos e tem 42 voluntários. Ribeiro faz uma observação importante: “O trabalho tem dado certo porque os idosos conseguiram facilmente estabelecer um vínculo com os cães. Esse relacionamento é fundamental para que as sessões prossigam de maneira tranquila e segura”.

Além de as universidades investirem em estudos dessas terapias –Terapias Assistidas por Animais–, outros programas que usam os animais para promover bem-estar às pessoas –Atividades Assistidas por Animais– também têm encontrado respaldo de profissionais da saúde.

A psicopedagoga Liana Pires Santos começou a usar cães, ratos, coelhos, porquinhos-da-índia e até algumas aves para auxiliá-la no trabalho com crianças e adolescentes. “Nos últimos dez anos, vi que os animais tornavam o trabalho mais atrativo e que podiam ser usados para auxiliar no tratamento de problemas de linguagem, de percepção corporal e de controle da ansiedade. A experiência mostrou-se promissora no tratamento de crianças com hiperatividade e com quadros depressivos”, diz Liana.

Murilo Matheus Ranocchia, 9, frequenta as sessões com os animais para melhorar o seu desempenho na sala de aula. Atualmente, ele estuda matemática com a ajuda dos ratinhos que acabaram de nascer. “É muito melhor com os bichos”, conta. “Após dois anos, ele evoluiu muito nos estudos”, diz Arlete Matheus Ranocchia, mãe do estudante.

Segundo a psicopedagoga, que também trabalha com cavalos, esses métodos trazem novas formas de socialização, autoconfiança e elevam a autoestima. “Como acontece com crianças hiperativas, controlar a velocidade do cavalo, por exemplo, pode lhes ensinar a lidar com a ansiedade.” Liana coordena, na Fundação Selma, em São Paulo, um serviço de equoterapia para pacientes de reabilitação física.

Uma das pioneiras no uso na zooterapia no país, a médica veterinária e psicóloga Hannelore Fuchs coordena o projeto Pet Smile, em São Paulo, há quase dez anos. Ela –que fundou a Abrazoo (Associação Brasileira de Zooterapia)– e uma dezena de voluntários levam animais para interagir com crianças e adolescentes em hospitais ou em instituições. Nas visitas, as vedetes são cães, gatos e coelhos.

“Além de servir como distração, a visita dos animais é importante para a saúde das crianças. Pesquisas mostram que boas emoções interferem de maneira positiva no sistema imunológico”, afirma a pediatra Maria Tereza Gutierrez, da Santa Casa de São Paulo. Segundo a médica, a visita gera bons frutos no ambiente hospitalar, interferindo no humor não só dos pacientes mas de enfermeiros e médicos.

Para Hannelore, a zooterapia tem muito o que amadurecer. “Há bons profissionais da área da saúde que se interessem pelo tema, mas não têm conhecimento sobre os animais. Por outro lado, há profissionais da medicina veterinária que conhecem bem o animal, mas sabem pouco sobre os seres humanos.” O caminho, para avançar, parece ser mesmo a aposta das universidades.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Cientistas fazem descoberta importante sobre doença de Alzheimer

Em artigo na revista Science, pesquisadores descrevem que droga utilizada no tratamento de câncer melhorou rapidamente perda de memória e capacidade cognitiva em modelo animal da doença (Science)

Agência FAPESP – Um grupo de cientistas nos Estados Unidos acaba de dar um passo importante na busca por um tratamento eficiente para a doença de Alzheimer.
Em artigo publicado nesta sexta-feira (10/02) no site da revistaScience, Gary Landreth, professor da Universidade Casa Western, e colegas de diversas instituições descrevem que a droga bexaroteno foi capaz de agir contra diversos efeitos da doença.
O bexaroteno é aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) do governo norte-americano e usado há mais de uma década no tratamento de alguns tipos de câncer, como no sistema linfático.
De acordo com a pesquisa, camundongos administrados com a droga apresentaram reversão rápida no quadro clínico com relação a efeitos danosos promovidos pelo Alzheimer, como perda de memória e prejuízos cognitivos. Segundo os autores do estudo, os resultados são mais do que simplesmente promissores.
A doença de Alzheimer decorre em grande parte da incapacidade do organismo em limpar o cérebro de fragmentos de proteínas conhecidas como beta-amiloide, que ocorrem naturalmente. Em 2008, Landreth e equipe descobriram que o principal condutor de colesterol para o cérebro, a abolipoproteína (ApoE), facilita a remoção das proteínas beta-amiloide.
No novo trabalho, os pesquisadores decidiram investigar os efeitos do bexaroteno no aumento da expressão da ApoE em camundongos modificados geneticamente para apresentar efeitos semelhantes aos promovidos pelo Alzheimer em humanos.
Sabia-se que a elevação dos níveis da ApoE aumenta a limpeza das proteínas beta-amiloides do cérebro. O bexaroteno atua ao estimular receptores conhecidos como RXR, que controlam quanto de beta-amiloide é produzido.
Os cientistas ficaram surpresos não apenas com os efeitos, mas com a velocidade com que o bexaroteno melhorou a perda de memória e problemas de comportamento. Apenas seis horas após a administração da droga, os níveis de beta-amiloides solúveis – que se estimam sejam causadores dos danos na memória causados pelo Alzheimer – caíram em 25%.
Além disso, segundo o estudo, a mudança se deu juntamente com uma rápida melhoria em diversas características comportamentais em três diferentes modelos de Alzheimer em camundongos.
Um exemplo de melhoria envolveu o instinto de montagem de ninhos. Quando camundongos com modelo da doença deparavam com materiais que poderiam ser usados para fazer um ninho – como papel higiênico, no estudo –, eles nada faziam.
Apenas 72 horas após o tratamento com bexaroteno, os animais começavam a usar o papel para construir ninhos. A droga também melhorou a capacidade dos animais em perceber e responder a odores.
Os cientistas verificaram que o tratamento com bexaroteno atuou rapidamente para estimular a remoção de placas amiloides no cérebro. De acordo com a pesquisa, mais da metade das placas foi eliminada em até 72 horas.
A redução ao final chegou a 75%. Segundo os autores, a droga parece reprogramar as células envolvidas na resposta imune para “engolir” os depósitos amiloides. O bexaroteno atuaria, portanto, tanto na forma solúvel como na depositada das proteínas beta-amiloides.
O artigo ApoE-directed Therapeutics Rapidly Clear β-amyloid and Reverse Deficits in AD Mouse Models (doi: 10.1126/science.1217697), de Gary Landreth e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Cachorro auxilia no tratamento de pessoas doentes em Prudente

Terapia assistida por animais é uma técnica usada para melhorar auto-estima de pacientes

AMANDA BARRETO, TV Record Rio Preto 
Texto: A+ A-
Em presidente prudente, um hospital psiquiátrico trabalha com um cachorro para auxiliar o tratamento de dependentes químicos e pessoas com transtornos mentais.

A terapia assistida por animais é uma técnica usada para melhorar a autoestima dos pacientes. Há quase dois anos duas terapeutas fizeram uma pesquisa sobre o uso de animais para auxiliar no tratamento de doenças. 

A ideia foi aprovada pela diretoria da unidade. Passados alguns meses, uma clínica veterinária doou o filhote da raça golden retríver, que tem o perfil mais dócil, para o hospital. Desde então, animal participa das atividades em grupo e também interage com os pacientes.

Para assistir o vídeo clique aqui

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Novas visões sobre o autismo

O professor Celso Goyos, da Universidade Federal de São Carlos, encerra as atividades da Escola de Ciência Avançada em Autismo, ao lado dos co-organizadores do evento Caio Miguel, da Universidade Estadual da Califórnia, e Thomas Higbbe, da Universidade de Utah. (foto: Marcos Marin)


Da psicologia à genética, especialistas de diversas áreas apresentam, em evento realizado em São Paulo, novidades sobre o diagnóstico e o tratamento desse distúrbio.
Por: Adriana Cohen
A primeira coisa a se falar sobre autismo é que, definitivamente, não se trata de um distúrbio raro. Os Distúrbios de Espectro Autista (DEA) atingem uma média de uma a cada 110 crianças nascidas nos Estados Unidos, segundo dados do Centro para Controle de Doenças e Prevenção (CDC, na sigla em inglês). No Brasil, um estudo epidemiológico realizado em uma cidade do interior paulista apontou um caso de autismo para cada 368 crianças de 7 a 12 anos.
Fala-se em ‘espectro autista’, pois hoje essa denominação engloba os vários tipos desse distúrbio comportamental. O diagnóstico não é simples, embora existam características comuns às pessoas com autismo, como a dificuldade em estabelecer contato visual com pessoas e objetos e a dificuldade de fala, além de comportamento autolesivo e/ou agressivo em graus distintos. Em alguns casos, pode haver também o comprometimento das habilidades motoras.
Durante a Escola São Paulo de Ciência Avançada em Autismo (ESPCA Autismo), realizada pela Universidade Federal de São Carlos no início do ano, os principais pesquisadores da área apresentaram o que há de mais recente em diagnóstico e tratamento de distúrbios autistas, com algumas boas novidades para pais e professores.
O primeiro passo para um tratamento eficaz são pais e especialistas buscarem entender o que cada comportamento significa
Vertentes modernas das pesquisas em DEA, como as realizadas pelo psicólogo Brian Iwata, especialista em análise do comportamento da Universidade da Flórida (EUA), apontam que modos de ação autolesivos e agressivos são completamente tratáveis. Iwata identificou que esses comportamentos são produzidos ou agravados porque têm funções específicas. Um chute, por exemplo, pode ser a forma que a pessoa com autismo encontrou para dizer que está com fome, já que tem a fala prejudicada. Um dedo repetidamente levado ao olho pode significar um estímulo agradável.
Por isso, o primeiro passo para um tratamento eficaz são pais e especialistas buscarem entender o que cada comportamento significa. Assim, será possível substituir comportamentos lesivos por uma linguagem não-verbal saudável.

Diagnóstico e tratamento precoces

Os especialistas ressaltam a importância do diagnóstico e tratamento precoces do autismo. Mas muitos pais deixam para tratar os filhos em idade mais avançada, quando consideram que eles já estão aptos a receber os estímulos educacionais, como ocorre com as crianças sem o distúrbio.
O pesquisador brasileiro Caio Miguel, da Universidade Estadual da Califórnia (EUA), explica que toda pessoa é sensível à educação. Contudo, os que apresentam algum espectro do autismo não aprendem de forma incidental – vendo e repetindo comportamentos usuais e palavras simples sem serem formalmente ensinados –, como acontece normalmente. “A criança com distúrbio autista precisa ser estimulada e o aprendizado vem via repetição”, ensina.
A psicóloga Cintia Guillhardi, pesquisadora do Grupo Gradual, está desenvolvendo um novo método para auxiliar na detecção de riscos de autismo em crianças de até um ano. A metodologia envolve diretamente os pais, que são orientados a realizar tarefas mensais com a criança. “Essas tarefas incluem a gravação de vídeos”, diz. E completa: “Se houver a percepção de algum sinal autístico, rapidamente os pais já são orientados a maximizar o desenvolvimento do bebê com brincadeiras direcionadas”.
Apesar da existência de métodos de diagnóstico e tratamento precoces, o coordenador da ESPCA Autismo, Celso Goyos, chama a atenção para a dificuldade de encontrar no Brasil profissionais atualizados sobre os novos tratamentos. “A evolução no tratamento do distúrbio autista ao longo dos anos é enorme e sabemos que muitos profissionais estão repetindo práticas que se aplicavam há vinte anos”, ressalta.
Para Goyos, o Brasil ainda tem muito a desenvolver nas pesquisas sobre DEA e carece de políticas públicas voltadas para o problema. “Para contribuir com a mudança dessa realidade, alguns acordos de cooperação internacional entre universidades foram sendo desenhados durante a Escola de Ciência Avançada, com ações previstas já para este ano de 2012”, conta. “A mobilização dos pais também é fundamental nessa busca por políticas públicas”, completa Caio Miguel.

Pelos caminhos da genética

Os cientistas também têm procurado na genética respostas que auxiliem na identificação e no tratamento dos distúrbios autistas.
O brasileiro Alysson Muotri, que realiza pesquisas com neurônios autistas na Universidade da Califórnia em San Diego (EUA), adiantou os resultados de um experimento bem-sucedido em que conseguiu reverter para o estado normal neurônios derivados de crianças com autismo clássico. A pesquisa, que deve ser publicada até o final de 2012, cria esperança em relação à produção de remédios modernos que impeçam o desenvolvimento ou mesmo consigam reverter o distúrbio.
Outros dois grupos de pesquisa no mundo também já se dedicam ao desenvolvimento de fármacos para o autismo e um outro deve ser formado na Universidade de São Paulo (USP). A base para a criação dessas drogas já é conhecida, mas ainda se buscam substâncias que sejam eficazes e apresentem menos efeitos colaterais. Apesar dos avanços nessa área, os pesquisadores ressaltam que, mesmo obtendo bons resultados na produção do medicamento, ainda levará anos até que ele esteja disponível nas prateleiras.
10 coisas que você precisa saber sobre o autismo
1) Quanto mais cedo o diagnóstico e o tratamento, melhor. Inclusive os bebês podem receber tratamento a partir de brincadeiras.
2) É preciso “ensinar a criança autista a aprender”. Ela aprende com a repetição.
3) Crianças autistas tendem a não focar o olhar. Estimule-a a seguir pessoas e objetos; assim, seu aprendizado será mais acelerado.
4) Agressões podem ser formas de se comunicar e podem significar vontade de ir ao banheiro ou comer.
5) É preciso prestar atenção no que o autista quer dizer com gestos, balbucios ou gritos. Isso tornará o tratamento mais eficaz.
6) No caso de a criança não falar, é importante criar uma forma de se comunicar com ela. Isso pode ser feito por meio de acenos e gestos.
7) A criança com distúrbio autista também reage ao meio em que vive. Se ela parecer agitada, tente notar em quais momentos isso ocorre. Ela pode não estar gostando da cor da sua camisa.
8) Irmãos de crianças diagnosticadas com autismo têm até 10% de chances de desenvolver a doença. Os pais precisam observar possíveis riscos.
9) Para assegurar a integridade física dos filhos, os pais não devem hesitar em intervir.
10) Busque profissionais especializados.

Adriana Cohen*
Especial para a CH On-line

*Colaborou Aline Naoe.

Pêlo Próximo no Jornal Futura

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Animais idosos não perdem neurônios, indica estudo

Trabalho feito por cientistas da USP com preás mostra que animais idosos não apresentam redução do número de neurônios e que células nervosas continuam se dividindo na velhice (divulgação)

Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em preás mostrou que, diferentemente do que se imaginava, animais idosos não sofrem redução do número de neurônios do sistema nervoso autônomo periférico – a parte do sistema nervoso situada nos diversos órgãos do indivíduo e fora do cérebro.
O estudo foi publicado no International Journal of Developmental Neuroscience – revista de referência da Associação Internacional da Neurociência do Desenvolvimento.
O trabalho corresponde à tese de mestrado conduzida por Aliny Antunes Barbosa Lobo Ladd na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, com Bolsa da FAPESP e sob a supervisão do professor Antonio Augusto Coppi, responsável pelo Laboratório de Estereologia Estocástica e Anatomia Química (LSSCA) do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (FMVZ-USP).
O estudo se soma a uma série de trabalhos do grupo que reforçam a tese de que os animais idosos não sofrem necessariamente redução do número de neurônios. “Além disso, o trabalho teve o mérito de observar neurônios se dividindo em animais idosos – algo que há alguns anos era considerado impossível na literatura médica”, disse Coppi à Agência FAPESP.
De acordo com Coppi, já é possível afirmar que o envelhecimento não corresponde necessariamente a uma condenação à perda de células nervosas. Essa perda, segundo ele, era um dogma da neurociência há algumas décadas.
“De 1954 a 1984, vários trabalhos indicavam que havia perda de neurônios durante o envelhecimento. Mas atribuímos essa conclusão ao método bidimensional utilizado na época para quantificar as células nervosas. A partir de 1984, quando um grupo da Dinamarca publicou o primeiro trabalho utilizando o método de estereologia em três dimensões chamado de ‘Disector’, a contagem de células em geral passou a ser muito mais acurada e precisa”, explicou.
Desde então, a comunidade científica internacional começou a refazer os trabalhos realizados nas décadas anteriores, com resultados mais acurados, mas os estudos em geral são voltados para o sistema nervoso central. Os trabalhos na FMVZ-USP são voltados especificamente a neurônios do sistema autônomo periférico, procurando confirmar as conclusões dos demais estudos realizados no cérebro.
“Iniciamos essa linha de pesquisa em 2002 e esse é o sétimo trabalho internacional que publicamos sobre o tema. Estamos confirmando por meio desses estudos que o número de neurônios do sistema nervoso periférico não diminui necessariamente durante o envelhecimento. Ao contrário, na maior parte das vezes se mantém estável”, disse Coppi.
Divisão celular
O grupo já realizou estudos com ratos, cobaias, cavalos, cães, gatos, capivaras, pacas, cutias e, agora, preás – incluindo estudos com modelos de doença de Parkinson e de doença de Huntington. No caso dos preás, aos três anos e meio os animais são considerados idosos.
“Por meio dos métodos imuno-histoquímicos associados à estereologia, pudemos detectar neurônios uninucleados e binucleados em pleno processo de divisão em animais idosos. Nossa hipótese é que o número de células nervosas que se dividem é maior que o número de neurônios que morrem e isso permite que o número total de neurônios permaneça estável”, disse Coppi.
Em meio aos muitos modelos animais estudados pelo grupo nos últimos dez anos, só uma exceção foi registrada: as cobaias. “No caso das cobaias tivemos uma redução de 21% no número total de neurônios entre os animais idosos. Não sabemos explicar as causas dessa redução. Em compensação, no caso do cão, houve um aumento incrível do número de neurônios em animais idosos: 1.700%”, afirmou.
Apesar da exceção, o conjunto dos estudos mostra que a tendência na velhice é uma estabilidade ou aumento do número total de neurônios. “Esse dado por si só quebra o dogma de que o número de neurônios deveria necessariamente diminuir”, afirmou.
O diferencial do estudo com os preás, segundo Coppi, é que pela primeira vez foram observados neurônios do sistema nervoso autônomo em pleno processo de divisão celular, os quais foram quantificados em três dimensões pelo método estereológico do fractionator óptico.
“Dessa vez utilizamos marcadores imunohistoquímicos especiais para detectar as células que estavam se dividindo. Mostramos que o número de células em divisão é uma proporção constante em cada faixa etária. Assim, o número total de células se mantém exatamente o mesmo em cada uma das quatro faixas etárias que observamos: animais neonatos, jovens, adultos e idosos”, explicou.
O artigo SCG postnatal remodelling - hypertrophy and neuron number stability – in Spix's Yellow-toothed Cavies (Galea spixii), de Aliny Ladd, Antonio Coppi e outros, pode ser lido por assinantes da International Journal of Developmental Neuroscience em www.ncbi.nlm.nih.gov .
Mais informações sobre a pesquisa: www2.fmvz.usp.br/lssca e guto@usp.br