domingo, 18 de novembro de 2012

O Azar de nascer Pitbull


Quando a 12 anos atrás comecei a trabalhar com cães, meu primeiro aluno foi um Pit Bull de 5 anos e digo à vocês que foi um grande aprendizado. Eu na época, assim como muitos que estão lendo esse texto tinha uma imagem formada da raça e tive que lutar e aprender a ver o cão por trás da raça.
Descobri no meu aluno um cão mimado e acostumado a mostrar os dentes para conseguir tudo que queria. Claro, existem inúmeros casos assim pelo mundo todo! A diferença é que não se pode comparar a mordida de um Pit Bull com a mordida de um Poodle, York, etc.
Mas antes de qualquer coisa, vamos entender de onde veio o Pit Bull.
Existem várias versões da origem da raça, a mais encontrada é que o Pit Bull é o resultado da cruza do antigo BullDog com alguns terriers.
Na Inglaterra, os BullDogs antigos não eram o que nós conhecemos hoje. Participavam comumente de esportes sangrentos contra touros e ursos.
Percebendo que o BullDog tinha vantagem em massa corporal mas não tinha tanta agilidade, iniciaram as cruzas com alguns terriers, nascendo assim cães menores, resistentes, ágeis e valentes. Assim surgiu o Pit Bull.
Então como percebem, assim como o labrador vem geneticamente carregado de informações para ser um retriever, o Pit vem com a genética aguçada para ser um cão de temperamento forte.
Quando vejo matérias sobre ataques de Pit bulls, observo que ninguém, digo, ninguém mesmo procura saber dos fatos por trás da notícia.
O Pit Bull não é um cão agressivo, não é um cão assassino, ele não é o problema. Tudo começa com os criadores sem escrúpulos que cruzam seus cães indiscriminadamente sem se preocupar em se os pais apresentam alguma agressividade ou desvio de comportamento e muito menos se preocupam que tipo de pessoa está comprando.
Se uma família permissiva leva para casa um cão com temperamento forte, significa que os problemas são certos. Qualquer cão pode nascer com tendências a ser dominante, isso não é um privilégio dos Pits, porém as raças fortes, tem maior facilidade de intimidar [Rotweiller, Bull Mastiffe, Fila, Doberman, Pit Bull, etc].
Se todo criador se preocupasse com a saúde física e mental dos cães, jamais iria deixar nascer uma ninhada de cães agressivos ou inseguros, pois esses distúrbios são transmitidos geneticamente.
O caráter e a personalidade do cão dependem 20% da genética e 80% do ambiente. A maneira como é criado e as experiências sociais moldam seu temperamento e definem sua maneira de agir”, afirma a Dra. Rubia Burnier, Veterinária Solidária da ARCA Brasil, que há mais 15 anos pesquisa a agressividade canina.
Donos irresponsáveis também são grandes culpados pela “fama de mau” do Pit Bull. São donos que ou não se preocupam em educar seu cão e acham lindo o cão que rosne desde filhote quando tentam tirar algo dele ou fazem dele seu espelho como companheiros de brigas e atitudes violentas. Muitas vezes vi casos de cães criados acorrentados sem ser socializados porque na cabeça desse dono, o cão tem que ser criado assim para atacar quem entra no seu quintal. Bem, é fácil imaginar o que aconteceria se esse cão se soltasse e encontrasse uma criança correndo, certo?
Outro problema também e que muitos donos só conseguem pensar com o coração. Cães com temperamento forte tem que ter liderança desde cedo. Não basta apenas você dar carinho sem nenhum limite. Cães são seres que necessitam de liderança. Tratar seu cão como humano e a forma mais cruel de faltar com respeito a ele.
A idéia de que Labradores e Goldens são mansos e Pits e Rottweiler são agressivos  e totalmente errônea. Existem inúmeros Rotts e Dobermans extremamente dóceis e Goldens e Shitzus agressivos, portanto as Leis de extermínio da raça Pit Bull para mim não tem sentido. Deveria sim se criar uma Lei para supervisionar a compra de cães, permitindo somente canis com proprietários responsáveis e mais, que a educação do filhote e do dono fosse obrigatória e até mesma paga pelo governo.  Isso sim seria uma forma de controlar os criadores de fundo de quintal e conseqüentemente, evitar a criação de cães com problemas comportamentais.
Para quem pensa em adquirir qualquer cão, algumas dicas:
- Pesquise sobre a raça: Você tem certeza que pode oferecer o que o cão precisa?
- Adestre: Com o adestramento você terá um cão controlado e obediente.
- Socialize: A socialização é o melhor caminho para que seu cão cresça equilibrado e feliz
Eduque-se: Não ache graça em comportamentos indesejáveis desde cedo. Lembre-se que o cão vai te dar exatamente o que receber. Coloque limites.
Todo ser merece ser respeitado. Todo ser merece uma educação e merece saber o que a sociedade espera dele. Porque tem que ser diferente com os Pit Bulls?
Claro, é muito mais fácil culpar a raça do que enxergar a verdade dos fatos.
Fato: Nós somos responsáveis pela chegada dos cães à nossa civilização.
Fato: Se você criar qualquer ser sem respeitar suas necessidades e sem oferecer o que ele precisa para crescer mentalmente saudável, este ser terá problemas sociais e psicológicos.
Fato: Violência não é uma forma de comunicação, e sim falta de argumento.
Fato: Se todos os seres humanos fossem conscientes, existiria um critério para compra de filhotes, principalmente as que tem tendência a temperamento forte.
Fato: A raça influencia em alguns aspectos físicos e tendências, mas não determina o temperamento do cão.
Agora te faço uma proposta: Antes de formar sua opinião sobre qualquer raça, não se limite a ver noticias de jornais ou TV. Faca como eu, abra sua mente e tente ver além do que lhe é mostrado.

Elaine Natal comportamentalista e adestradora do Pêlo Próximo e proprietária do Clube das Patinhas