quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O momento de procurar o atendimento do médico veterinário


O animal está para o veterinário assim como uma criança pequena para o pediatra. Ele não fala, não consegue dizer o que está sentido, porém ele expressa seu mal estar de várias formas. No entanto, na vida selvagem, um animal doente é uma presa fácil de ser abatida, o que faz com que, por instinto, independente da espécie, ele tente esconder ao máximo que não está bem.

Quando um animal começa a dar sinais de que algo está errado, geralmente o problema pode estar muito avançado e muitos sinais podem ser percebidos pelo responsável mais cuidadoso, mas nem todos conseguem notar. O  animal costuma procurar aquela pessoa em quem ele mais confia para expressar de alguma forma seu mal estar, mas na maioria das vezes, ele tende a ficar quieto, procura se esconder, reflexo instintivo da vida selvagem, em que somente os mais fortes sobrevivem.

Porém as mudanças de comportamento são evidentes, basta um olhar mais cuidadoso. O animal deixa de fazer festinha com a chegada do dono, fica muito tempo deitado, urina em locais inapropriados ou com mais freqüência, em maior ou menor quantidade, deixa de comer, come menos ou passa a ser mais seletivo com o alimento, “chora” ou rosna ao ser tocado, anda com mais dificuldade, fica arqueado, de alguma forma ele apresenta sinais de alteração comportamental que nos fazem suspeitar que algo não vai bem. Esta é, sem dúvida,  a hora de procurar o veterinário, munido do maior número de informações possível.

Entretanto, muitas vezes, não é isso que acontece. Neste momento o proprietário começa a recorrer a fórmulas caseiras e medicamentosas que conhece. Em um segundo momento solicita auxílio dos amigos, outros donos de animais, balconistas de pet shops, sites de buscas e, ainda pior, fóruns e sites de perguntas e respostas. Além de não ser capaz de perceber alterações que só o clínico pode avaliar, este proprietário está perdendo tempo, e o problema avançando, porque, como disse no início do texto, o animal não reclama de um mal estar, uma dor de cabeça, ouvido, coluna, cólica, como nós fazemos. Situações que geralmente nos fazem procurar o médico eles tiram de letra, até mesmo por um limiar de dor mais alto, eles não se abatem tão facilmente.
Portanto, quando estão realmente demonstrando incômodo é porque o problema é mais sério do que supomos.

E aí está o problema que nós, clínicos veterinários, nos deparamos na clínica, e principalmente nas emergências, do dia-a-dia. Quando o animal chega em estado de emergência, após o pronto atendimento, quando vamos fazer a anamnese, ou seja, as perguntas para investigar o problema, percebemos quanto tempo e dinheiro o proprietário perdeu e se lamenta dizendo ter feito tudo o que estava ao seu alcance. Tudo menos o principal. Isso quando o proprietário, ciente de que pode ter prejudicado seu animal, ainda não esconde informações importantes, o que pode piorar ainda mais o quadro. O médico veterinário, apesar de perceber algumas intervenções do proprietário, não pode adivinhar, ele precisa da colaboração do mesmo para fechar o diagnóstico e intervir de forma eficaz o quanto antes.

Não é incomum ouvir em rodas de amigos, geralmente pessoas que não sabem que sou médica veterinária, ou mesmo sabendo, alguém dizer: “Eu faço tudo o que está ao meu alcance, sou experiente, só procuro o veterinário em último caso”. Não me espanto ao ouvir logo em seguida, da mesma pessoa, que algum veterinário não conseguiu salvar seu animal.

Um exemplo clássico de engano do proprietário quanto ao “diagnóstico” do seu animal é aquele que se queixa de que seu gato está com dificuldade de defecar há dias e logo na primeira avaliação o veterinário percebe a bexiga repleta. Isso ocorre porque gatos com obstrução urinária se colocam em uma posição que parece, ao proprietário inexperiente, que este animal está tentando defecar devido a localização (perineal) do pênis do gato próxima ao ânus e,, mesmo que ele não esteja defecando isto se deve ao fato de sentir dor pela bexiga repleta. O tempo que o proprietário perde esperando o gato defecar sozinho, realizando mudanças na alimentação e fórmulas para promover a evacuação, muitas vezes custa a vida deste animal, que chega às mãos do clínico veterinário em estado grave em que salvar sua vida ou não pode ser questão de segundos.

Assim como acontece na clínica de pequenos, com cães e gatos, acontece com animais silvestres.  Quem cria um animal deve saber como fazê-lo, o ambiente necessário, o espaço que precisa, qual a alimentação correta. Sem dúvida alguma, o maior número de casos de procura a atendimento de silvestres é por erros de manejo, erros geralmente graves, em que qualquer intervenção não é mais possível.

Portanto, antes que o pior aconteça e que você precise procurar, e até mesmo conhecer, um veterinário no momento de desespero, o melhor e mais inteligente a fazer, assim que você adquirir um animalzinho, é levar para uma consulta de rotina, pedir orientação de como ele deve ser criado, alimentado, quais as peculiaridades da raça, da espécie. Procure ter um veterinário de sua confiança, assim como os telefones e endereços de clínicas 24 horas mais próximas de você.

Então é isso, procure se informar, ler, mas nunca menospreze qualquer sinal que demonstre que seu animalzinho precisa de ajuda.



Dra. Luciana Petine é médica veterinária e voluntária do Projeto Pêlo Próximo

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