terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Como descartar medicamentos corretamente?

Devolver remédios vencidos ou suas sobras para uma farmácia de confiança é o jeito mais adequado de não pôr a saúde em risco, tampouco prejudicar o meio ambiente

Por Romulo Osthues | Fotos Danilo Tanaka | Produção Janaina Resende

Você se curou da tosse chata com um xarope, mas sobrou meio vidro daquele santo remédio. O que pensa em fazer com o resto dele? Guardar para uma próxima crise? Doar para um vizinho ou parente? Despejar no sistema de esgoto? "Não se deve descartar nenhum medicamento no lixo comum, nem no vaso sanitário, pois os mesmos são compostos de substâncias químicas que colocam em risco a saúde de crianças ou pessoas carentes que possam reutilizá-los, além da contaminação da água e do solo", explica a farmacêutica Endy Dórea. Ela conta que já trabalhou em uma grande rede de drogarias no Estado da Bahia cujos medicamentos vencidos retornavam para a central de distribuição. Esta, por sua vez, os encaminhava para uma empresa especializada em transporte e incineração desse tipo de resíduo.
Ampolas, seringas, agulhas e frascos de vidro danificados devem ser entregues à farmácia em uma sacola diferente daquela que contém restos de remédios

Responsabilidade compartilhada
Embora o exemplo citado seja uma prática consolidada entre as empresas do setor farmacêutico, ela não conta com a participação daquele que deve ser o maior interessado no assunto: o consumidor. Uma pesquisa realizada com 1009 paulistanos no ano de 2005, pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas e Bioquímicas Oswaldo Cruz (SP), revelou que 92,5% dos entrevistados nunca perguntaram como fazer o descarte de produtos farmacêuticos de forma correta, apesar de 63,3% deles reconhecerem o elevado risco de jogá-los fora indiscriminadamente. No entanto, essa realidade está mudando: associações e empresas da indústria e do comércio farmacêuticos, assim como instituições de coleta seletiva, com apoio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), discutem o melhor modo de concretizar um programa integrado de logística reversa.
Enquanto isso não ocorre, iniciativas privadas promovem programas de conscientização e informação para o consumidor final, investindo em coletores específicos nos pontos de venda de medicamentos e divulgando os programas. "A responsabilidade tem de ser compartilhada ao longo da cadeia de resíduos: fabricante, distribuidor, comerciante e consumidor. Todos são responsáveis, cada qual com sua parte", ressalta Rita Emmerich, engenheira química e representante da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP).

As embalagens dos medicamentos não devem ser reaproveitadas para o armazenamento de outras substâncias de consumo devido à potencial contaminação residual

Como fazer a separação 
É necessário tratar medicamentos e objetos perfurocortantes de modo distinto dos demais resíduos em sua casa. Contudo, não se preocupe em colocar a pomada aqui, o frasco de pílulas acolá, a cartela de comprimidos em outro lugar. O importante, mesmo, é diferenciar o que pode machucar quem irá manusear seu lixo daquilo que está protegido por uma embalagem. Sendo assim, ampolas, seringas, agulhas e frascos de vidro danificados devem ser entregues à farmácia em uma sacola diferente daquela que contém os demais produtos, como restos de remédios e itens fora do prazo de validade. Se a loja não disponibilizar coletores com as devidas separações, informe a quem receber de suas mãos o que cada sacola contém. "A forma mais correta de tratamento desse material seria a incineração em máquinas preparadas para esse fim, ou seja, com todos os aparatos para não poluir o meio ambiente", explica Rita.

E as embalagens? 
Nada de usar potinhos de remédios para guardar moedas, temperos... "As embalagens dos medicamentos não devem ser reaproveitadas para o armazenamento de outras substâncias de consumo devido à potencial contaminação residual. As embalagens secundárias (como caixas de papelão, por exemplo) podem ser recicladas", alerta Dórea. Mas a reciclagem fica a cargo das empresas gestoras de resíduos. Na dúvida, leve tudo junto para a farmácia, sem fazer distinção entre o que é reciclável ou não. Especialistas farão isso por você.
FONTES: GTT DE MEDICAMENTOS DA ANVISA; RITA EMMERICH, ENGENHEIRA QUÍMICA E REPRESENTANTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RESÍDUOS SÓLIDOS E LIMPEZA PÚBLICA (ABLP); SINDICATO DAS INDÚSTRIAS DE PRODUTOS FARMACÊUTICOS (SINDUSFARMA); FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS E BIOQUÍMICAS OSWALDO CRUZ (SÃO PAULO); ENDY DÓREA, FARMACÊUTICA.

Remediando o problema 
Acompanhe o exemplo do Sigre (Sistema Integrado de Gerenciamento de Lixo), um programa de logística de descarte de produtos farmacêuticos feito pelo Governo Espanhol, que serve de modelo para todo o mundo desde 2002 e tem adesão de 100% das farmácias do país

INDÚSTRIA
Esforço para desenvolver e utilizar embalagens de medicamentos que sejam cada vez mais ecológicas e seguras, facilitando a posterior reciclagem
SÍMBOLO
Estampado nas embalagens, esse símbolo assegura ao consumidor que, se o medicamento inútil for devolvido, ele será eliminado de maneira correta
FARMÁCIAS
Dispõem de coletores de restos de medicamentos ou produtos fora da validade, localizados em zonas estratégicas nas lojas e próximos a folders informativos
MÉDICOS
Fundamentais na orientação de seus pacientes sobre o descarte adequado dos resíduos ao fim de todo e qualquer tratamento
CIDADÃOS
Responsáveis pela checagem periódica da validade dos remédios armazenados em casa. Quando eles estão vencidos, os cidadãos os levam para os pontos de coleta distribuídos em mais de 20 mil locais
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Zela pelo funcionamento de todo o processo, supervisionando a cadeia, e colabora com a educação da população a respeito do tema
DISTRIBUIÇÃO REVERSA 
Empresas especializadas seguem a cadeia de recuperação de resíduos, transportando-os das farmácias até as áreas de seleção, reciclagem (papel, vidro, plástico etc.) e incineração de materiais tóxicos e/ ou contaminantes (é possível gerar energia elétrica com isso)
FONTE: VÍDEO INSTITUCIONAL DO SIGRE. WWW.SIGRE.ES

OS BONS EXEMPLOS EM ESTRATÉGIAS DE DESCARTE DE MEDICAMENTOS
Conheça algumas iniciativas que têm gerado ótimos resultados para o descarte adequado de resíduos farmacêuticos

PROGRAMA PAPA-PÍLULA (SESI-SANTA CATARINA) 
O programa visa ao treinamento interno das equipes para sensibilização de seus trabalhadores e da comunidade em geral com realização de palestras e outras ações. Mais de 56 mil medicamentos foram recolhidos no primeiro semestre deste ano na região de atuação. www.papapilula.com.br

PROGRAMA DESCARTE CORRETO DE MEDICAMENTOS (EUROFARMA-SÃO PAULO)
Acontece desde 2010 na capital paulista e nas cidades de Araraquara e Piracicaba. As farmácias dispõem de urnas coletoras que diferenciam medicamentos e embalagens dos demais itens perfurocortantes. A coleta é feita pelo serviço de saúde da empresa de limpeza pública e o lixo é destinado aos gestores de resíduos. Em dois anos de programa, houve um crescimento de 595% na entrega voluntária de medicamentos sem uso nas farmácias da rede. www.eurofarma.com.br

PROGRAMA SUSTENTABILIDADE É SAÚDE (REDE DROGAMAIS-PARANÁ) 
Desde seu início, em março de 2011, foram arrecadadas mais de três toneladas de medicamentos na região norte do Paraná devido ao programa criado pela Drogamais. São espalhados cartazes com orientações de como fazer a separação do material, bem como há coletoras nas farmácias para armazenar os produtos. Periodicamente, seus clientes são informados sobre as quantidades de medicamentos coletados.www.rededrogamais.com.br

PROGRAMA AQUI TEM DESCARTE CORRETO (REDE FARMES-ESPÍRITO SANTO E LABORATÓRIOS EMS) 
A indústria de medicamentos genéricos EMS disponibiliza para as farmácias da rede Farmes coletores de resíduos, além de material informativo sobre como proceder. Os coletores apresentam até compartimento para descarte de pilhas e baterias, extrapolando a área de atuação e interesse da empresa.www.redefarmes.com.br


Fonte: Viva Saúde

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