quinta-feira, 15 de março de 2012

Cães podem ajudar alunos nas escolas

Ayrton Mugnaini Jr., especial para o Yahoo!

Mais que amigos e companheiros, os cães são notoriamente excelentes “objetos transicionais” para ajudar no desenvolvimento emocional e sentimental das pessoas, desde pequeninas. E se a escola, como aprendi quando pequeno, é “nosso segundo lar”, então ela bem pode incluir algumas das melhores coisas que temos em casa – inclusive animais de estimação, especialmente cães.

Não é assim tão recente ou incomum a noção de ter cães em escolas, além dos óbvios que atuam como guias de alunos deficientes visuais e guardas do estabelecimento. São vários os motivos e as vantagens, inclusive para crianças com necessidades especiais.

“Cãolegas”
Segundo experiências em escolas de Kansas City, nos EUA, crianças aprendem a desenvolver senso de responsabilidade, solidariedade e trabalho em equipe, se organizando e revezando para cuidar do peludo. Havendo maior senso de responsabilidade e solidariedade, a tendência é diminuir o molestamento - problema que no Brasil só ganhou atenção ao ser chamado pelo nome em inglês, “bullying”. As crianças se identificam com os cães, comparam o sofrimento de colegas molestados ao de cães com o mesmo problema e se sensibilizam.

Algumas escolas estadunidenses descobriram que cães podem ajudar crianças pequenas mais tímidas e com situações especiais (como síndrome de Down) a desenvolverem sua leitura e também autoconfiança, lendo para peludos, sempre atentos e receptivos e nada predispostos a ridicularizar. Na Inglaterra, a experiência tem demonstrado que alunos mais nervosos ou inquietos tendem a se acalmar e descontrair ao chegarem à escola e serem recebidos por peludos mansos e festeiros, e não há mal nenhum em fazer um cafuné no cão durante a aula de vez em quando.

Na Alemanha já é comum a chamada “Hundgestützte Pädagogik” (“Educação Assistida por Cães”), onde os peludos ajudam até indo buscar material escolar dos alunos. Sem dúvida, mais divertido – e também mais educativo – que a maioria das “Escolinhas” de nossos programas humorísticos.

A entidade International Association of Human-Animal Interaction Organizations (IAHAIO) resumiu tudo numa assembléia de 2001: “A participação dos animais de estimação no currículo escolar estimula o desenvolvimento moral, espiritual e pessoal de cada criança, traz benefícios sociais à comunidade da escola e aumenta as oportunidades de aprendizagem em diferentes áreas do currículo”; “Os programas sobre animais de estimação deveriam, em algum ponto, permitir o contato pessoal com esses animais no ambiente da sala de aula” e a segurança e o bem-estar dos animais envolvidos devem ser garantidos em todos os momentos, bem como respeitados a segurança, a saúde e os sentimentos de cada criança na classe”. Mais detalhes em www.iahaio.org

E no Brasil? Em Porto Alegre, por exemplo, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) promove campanhas nas escolas pela posse responsável e educação humanitária de animais domésticos, inclusive com a presença de cães nas salas de aula para alunos com necessidades especiais, pois, como resume a Smed, “a presença do cão em sala de aula traz resultados muito positivos na intervenção pedagógica”.

Vários colégios de Curitiba mantêm espaços rurais onde crianças podem conviver e interagir com animais e a natureza, o que beneficia não só a conscientização quanto ao meio ambiente, mas também a adaptação das crianças à escola. “Os animais não fazem diferença entre uma pessoa e outra. Não julgam se uma pessoa é feia ou bonita. Eles aceitam a todos e ativam a área do cérebro humano ligada à emoção. Por isso, na escola, os animais fazem com que as crianças se sintam acolhidas, ajudando na adaptação”, diz Roberta Obladen, vice-diretora da escola Pés No Chão, que funciona há quase 30 anos.

Para começar
A presença e a residência de cães numa escola devem ser autorizadas pela diretoria do estabelecimento; talvez seja necessário um abaixo-assinado de alunos e professores. E deverá haver um fundo de caixa – subvencionado pelos alunos, prefeitura ou outra pessoa ou entidade – para os custos de alimentação, vacinas, veterinário, brinquedos e outros itens necessários para o peludo viver bem. E deverá haver alguém responsável para tomar conta do bicho, inclusive nos fins de semana e períodos de férias, sejam alunos, funcionários da escola ou ambos.

Há ainda detalhes que, justamente por serem óbvios, vou relembrar: o cão deverá estar muito bem socializado, limpo, vacinado e vermifugado. Em Uruguaiana (RS), iniciou-se este ano uma campanha pelo cuidado com os cães; muitos acompanhavam os piazitos à escola e lá deixavam turmas inteiras de pulgas, sarna e carrapatos.

Obviamente, o cão não precisa ser “professor assistente” nem guarda para ser benvindo nas escolas. Lembrei-me de Dara, cadela vira-lata muito simpática que conheci ao participar de um evento na Faculdade Eça de Queirós, a famosa FACEQ em Jandira, na Grande São Paulo. Em 2008 Dara – ainda sem esse nome – simplesmente resolveu acompanhar um dos porteiros da escola e, sendo época de férias e pouco movimento, ninguém se importou, e ela foi ficando, adotada não só pela FACEQ como também pela Ideal Work, fábrica de uniformes situada ao lado. E, por falta de um nome, a cadela ganhou dois: a Ideal Work, além de também receber carinhosamente a cadela, deu-lhe outro nome, Amarela.

...e outros bichos
Não custa lembrar que a presença animal nas escolas não precisa necessariamente se limitar a cães; outros animais, como gatos, hamsters, coelhos, calopsitas e porquinhos-da-índia também são bem-vindos para aumentar a diversão e prazer em aprender.

Resta-me por ora apenas torcer para que os governos criem frases melhores e mais completas que “Governo do lugar tal, firme e presente cuidando de gente”... Se gente merece cuidados, por quê não os bichos?

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