Freud não é sério, nem tem raça definida. E é terapeuta há praticamente um ano. Ajuda no tratamento de usuários do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) do bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, onde também vive. Nesse espaço de reabilitação mental, são atendidas, atualmente, cerca de 120 pessoas - usuários que possuem distúrbios neuróticos, psicóticos, perversões e transtornos de humor.
A ação terapêutica do cão já alcançou mais de 600 atendimentos. A próxima etapa será o auxílio no tratamento de crianças com problemas neurológicos do Hospital Barão de Lucena, localizado na Zona Oeste da cidade.
"Percebemos claramente a melhora da autoestima, da confiança, da disciplina e da concentração dos participantes", afirma Andréa Maria de Paula Souza, terapeuta ocupacional do centro há cinco anos.
Idealizadora do projeto de "Terapia Assistida por Animais" no Caps LivreMente, como é conhecido, Andréa coordena os encontros, que são realizados semanalmente às terças e quinzenalmente às quartas-feiras no número 36 da Rua Ministro Nelson Hungria. Sempre às 15h30 e aberto a qualquer participante. Geralmente, pouco mais de 50 pessoas frequentam o espaço a cada mês.
A tarefa desempenhada pelo cão é bem simples. Ele apenas interage com os pacientes. "Como percebemos que Freud é aberto para receber o outro, gosta de brincar e é sensível, o treinamento com ele ficou bem mais fácil", afirma o adestrador de cães Marcone Barros, voluntário do projeto.
A terapia se baseia nas técnicas de adestramento do cão e outras brincadeiras com obstáculos, ensinadas por Barros aos usuários [como são chamados os pacientes da rede de saúde mental]. "Depois que ele ensina como Freud dá a mão e deita, a gente tenta fazer igual, sempre com a ajuda de um petisco de salsichinha", informa o usuário Daniel José, há um ano frequentando o espaço.
"Nós conseguimos chegar até o usuário através de Freud", afirma a assistente social Nelba Rodrigues, também integrante da equipe de assistência. "Freud é nosso psicanalista; ele é aquele que ajuda a gente no nosso dia a dia", diz Adriano Ernesto, frequentador diário do Caps LivreMente.
Adriano é um dos casos de melhora observada pela equipe. Mais disciplina, melhorias na capacidade de memorização e na coordenação motora contribuíram para o quadro de esquizofrenia. Ele ganhou até um filhote de outro frequentador do Caps. "O nome dela é Anália Ernestina", conta Ernesto, que já se propôs a um desafio: "Vou provar que o pitbull treinado só é bravo se o dono quiser". O plano? Preparar Anália para corridas.
A terapia com as técnicas de adestramentro ocorrem duas vezes por semana, mas Freud, como vive no Caps, onde fica solto durante quase todo o tempo, não deixa de socializar com os visitantes nem por um minuto. É o cão, que tem pouco mais de um ano de vida, que recepciona os frequentadores e visitantes do espaço. "Essa integração com nossos usuários é de longe. Começou quando ele foi acolhido por todos, com mais ou menos dois meses de vida; ele era da rua", informa a terapeuta Andréa Maria.
"As pessoas precisam vim para cá para ver”, diz a psiquiatra com 33 anos na área Gilvanice Noblat, defendendo a existência de novas formas de tratamento alternativo para os doentes mentais. Gil, como é conhecida, é uma das personagens locais envolvidas na luta contra os manicômios. "O foco agora é a melhoria da qualidade de vida e a inserção social; nunca foi a busca pela cura", diz. Ela alerta, ainda, que o transtorno mental não vai implicar, necessariamente, em dependência. "Pessoas esquizofrênicas, quando não estão em crises, são produtivas em suas mais variadas atividades", afirma.
No Caps, existem basicamente três modalidades de tratamento. O intensivo, com visita diária dos usuários; o semi-intensivo, para aqueles que frequentam o espaço três vezes por semana; e o não-intensivo, onde a visitação ocorre quinzenalmente. O tratamento dos usuários é acompanhado por médicos psiquiatras.
NOVO CICLO - No final de abril, o projeto vai alcançar exatos 12 meses de criação. Um ciclo completo no tratamento das pessoas atendidas no "LivreMente" que convivem com quadros de depressão, esquizofrenia, transtorno obsessivo, alucinações e delírios.
Andréa espera agora levar a iniciativa para o Hospital Barão de Lucena, referência no atendimento materno-infantil de alta complexidade em Pernambuco. "Estamos querendo levar Freud para as crianças com problemas neurológicos que estão internadas nessa unidade de saúde pública", disse. O projeto ainda está em análise e em vias de aprovação pela Prefeitura do Recife e pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), órgão responsável pelo gerenciamento do hospital.
Fonte: PB Agora
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