quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O amor que cura

Escrito por Caroline Pilz Pinnow

Especialistas garantem que o simples toque em um animal aumenta a autoestima, desenvolve sentimento de proximidade, segurança e confiança

Ou seja, além de amigos, eles são uma fonte de saúde e longevidade Para completar seu tratamento, Gabriel Evandro Lopes Nery, de 8 anos, tem feito equoterapia. Os avanços já foram grandes e, se continuar assim, em breve conquistará o seu maior sonho: andar sozinho. A convivência com os cavalos é uma grande aliada para pessoas com limitações cognitivas Gabriel Evandro Lopes Nery, de 8 anos, leva uma vida como qualquer outro garoto da sua idade. Brinca, joga videogame, estuda, faz natação, não larga do computador e ainda adora uma boa conversa.

Só que para chegar até aqui o pequeno ‘guerreiro’ precisou de muita determinação. Gabriel nasceu de 6 meses, o que gerou uma leucomalácia, uma espécie de hemorragia periventricular (no cérebro) que provocou um atraso na coordenação motora e a falta de domínio sobre o próprio corpo. “Minha avó costurou as pernas de uma calça e colocou espuma dentro para que eu me apoiasse”. Tudo porque ele nem conseguia segurar o pescoço. Mas isso é algo que já ficou no passado.

 Desde os dois anos de idade o bravo menino já passou por todos os tipos de tratamentos oferecidos em Cuiabá. Os avanços foram grandes e, se continuar assim, em breve ele deverá conquistar o maior deles: andar sozinho. Para isso, nos últimos meses, além de fazer pilates, natação e a fisioterapia, ele realiza sessões semanais de alongamento em cima do cavalo: a equoterapia. O uso de cavalos é um forte aliado para crianças e adultos com limitações neuromotoras ou cognitivas.

Mas não só isso, médicos e cientistas estão cada vez mais convencidos da importância do apoio dos animais na saúde humana, seja em doenças graves, dificuldades da vida, ou apenas pela companhia e amor que eles podem proporcionar. O terapeuta ocupacional Jorcy Junior começou a trabalhar com equoterapia há 13 anos. Depois que conheceu a técnica acabou se apaixonando. Ele explica que o cavalo é o animal com o caminhar mais parecido com o dos humanos, desta forma a equoterapia é capaz de emitir de 1,8 mil a 2,2 mil impulsos ao sistema nervoso central.

Além disso, os ajustes corporais automáticos que o praticante faz para se adaptar ao movimento do cavalo mandam sinais nervosos pela medula espinhal até o sistema nervoso central. Isso gera a formação de novas células nervosas no cérebro. Estímulos que melhoram o equilíbrio, postura, coordenação motora global, atenção, concentração e sociabilização. Entre as indicações estão os pacientes com sequelas neurológicas, paralisia cerebral, hidrocefalia, microcefalia, síndrome de Down, traumatismo raqui-medular (acidente), e autismo.

A terapia não é indicada sozinha, é importante que seja associada a outros estímulos como a fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e psicologia. O especialista explica ainda que adultos e crianças que não têm limitações neuromotoras ou cognitivas, mas lidam com outras dificuldades da vida, como estresse, depressão ou problemas na escola podem optar pela equitação lúdica, que trabalha atenção, memória, laterabilidade, regras e limites. “É um excelente exercício e em poucos meses o resultado já é visível”.


Paixão à primeira vista: Kathyucia Kapich, de 7 anos, é uma das pacientes do consultório de odontologia da Unic. No mês passado ela pela primeira vez chegou perto dos cães e ficou apaixonada, principalmente pelo Bonno. Pet terapia Na contramão do cenário nacional, em Cuiabá ainda são poucos os projetos que incentivam o convívio com animais. Um dos mais importantes surgiu em 2006, na Universidade de Cuiabá (Unic), em uma parceria entre o curso de Medicina Veterinária, Fisioterapia e Odontologia, é o ‘Cães Voluntários’.

Uma vez por semana os animais são levados às salas de espera para interagir com os pacientes, o resultado é imediato: redução da ansiedade, estresse, maior conforto e satisfação. De acordo com a professora de Odontologia Pediátrica Cíntia Aparecida Simões, no dia em que os cães aparecem, as crianças, por exemplo, são muito mais acessíveis ao tratamento. “Elas deixam a gente fazer tudo que precisa ser feito”.

Na Odontologia também é feita a demonstração da higiene bucal dos cães para motivação dos pacientes. O pequeno Edson Junior Gomes da Costa, de 7 anos, adorou a iniciativa. O menino já teve um cãozinho que acabou morrendo e desde então ele quase não brinca com animais. O projeto conta hoje com cinco cães da raça labrador. São eles: Bonno, Coragem, Laka, Margarida e Solano. Eles se revezam durante a semana. Enquanto dois vão para a sala de espera de Odontologia, os outros dois vão para a Fisioterapia.

O uso de cães para pacientes com alguma dificuldade motora também é excelente como auxiliar no tratamento. Repetições de movimentos, como andar, correr, jogar bola e acariciar o animal, trabalham postura, controle de tronco e cervical. A coordenadora de fisioterapia Maria Amélia explica que ao afagar o cão ou mesmo escovar os pelos os pacientes estão realizando parte do tratamento tornando o ambiente e a terapia mais dinâmica e colaborativa. A atual coordenadora do ‘Cães Voluntários’, Juliana Normando Pinheiro, conta que quando surgiu o projeto a primeira necessidade foi buscar a melhor raça para esse tipo de terapia.

“Logo pensamos no labrador por ser muito dócil, sociável, brincalhão, tolerante, fiel e obediente”. Além de muito inteligentes, esses cães são facilmente adestrados e treinados para funções específicas. Juliana também lista uma série de benefícios no que se refere ao contato homem-animal. “Estudos revelam que essa interação funciona como um calmante, pois reduz a pressão arterial, a frequência cardíaca e acaba diminuindo a aplicação de medicações, o estresse”.

Outros animais Cães, cavalos e golfinhos são os animais mais comuns para a realização de terapia, mas não são os únicos. Os pássaros, por exemplo, podem ser usados em terapias com idosos, já que o ato de segurá-los ajuda na movimentação dos pulsos e mãos e automaticamente na hora de segurar algum objeto. Coelhos são muito produtivos no tratamento de crianças hiperativas, uma vez que estas se identificam com a sua rapidez e observam os momentos certos para utilizar essa característica, aprendendo assim a dosar a hiperatividade. Por sua vez, os gatos, muito independentes e ágeis, ajudam a recuperar a autoconfiança. Assim, costumam ser utilizados no tratamento inicial da depressão. A terapia com gatos é um calmante e promove o bem-estar psicológico. Nas escolas, existir um animal ao cargo de uma turma (sempre sob a supervisão de um professor) aumenta a autoestima e o sentimento de grupo, bem como de responsabilização perante a sociedade. Adote um amigo! - Quem leu essa matéria e ficou com vontade de ter um bichinho em casa pode ir até a Associação Voz Animal (AVA) e adotar um ‘companheiro’. De acordo com a médica-cirurgiã e presidente da associação, Maria das Dores Gonçalves, não é preciso ter um cão de raça para ser feliz. “Os vira-latas são a mistura de várias raças, possuem maior resistência a doenças, são muito espertos, inteligentes e companheiros”. Para ela, não existe contraindicação em se ter um animalzinho de estimação. “Eles não julgam, não se afastam e são fontes inesgotáveis de amor”. Para mais informações, ligue 9602-0426 ou 9982-0165.

Cuide (bem) do seu bichinho Para alguns animais, como o caso dos labradores, o convício social é muito importante e participar do projeto acaba se tornando uma diversão, já que eles gostam de estar perto das pessoas e adoram toda a atenção e o carinho que recebem. De acordo com o médico veterinário Lázaro Manoel de Camargo, além dessa raça, existem outras de pequeno porte para pessoas que buscam um cão para companhia, como o yorkshire terrier, poodle, shitzu, maltês ou lhasa apso, que são bastante afáveis. Camargo também alerta que os animais que trabalham com pacientes que possuem algum tipo de deficiência ou que fazem companhia devem ter registro de controle higiênico-sanitário, com exames laboratoriais e vacinações periódicas, além de consultas médicas que atestam o bom estado de saúde. Devem ser alimentados com ração de boa qualidade, estar limpos (banhos semanalmente) e ter um habitat compatível com as funções realizadas.

Alérgicos Pessoas alérgicas nem sempre precisam ficar distantes dos animais. De acordo com o médico alergista Nelson Rangel, o que causa alergia não são os pelos e sim o epitélio, que seria a descamação natural de qualquer animal. Por isso o médico não recomenda que crianças com menos de 5 anos, que tenham tendências alérgicas, convivam com animais. Depois dessa idade, são necessários apenas alguns cuidados, o principal deles é não dormir com o animal.

 Amar se aprende amando Parafraseando o poeta Carlos Drummond de Andrade, podemos contar a história da assessora técnica da Secretaria Municipal de Educação, Lelis de Tássia Araújo. Ela sempre teve uma vida corrida, jamais pensou em adotar um bichinho. Mas há três anos ela ganhou um cãozinho da irmã. O ‘Choco’ era o menor e mais frágil da ninhada, porém tinha muita vontade de viver. Lelis se identificou com aquilo e decidiu tentar. Na época o filho mais novo, Mighel, estava muito rebelde. Adivinha o que aconteceu? A convivência e a responsabilidade com o animalzinho foram mudando as atitudes do garoto. “Hoje eu vejo como todos nós crescemos com a vinda do Choco”. Para fazer companhia ao cãozinho eles adotaram o Pingo. “Não tem como ficar triste perto desses dois”.

 Conviver com eles traz mais saúde:

Física: ajuda nos exercícios relativos à mobilidade, bem-estar, afastamento do estado de dor, estímulo das funções da fala e funções do corpo.
Mental: nos estímulos da memória e exercícios de cognição, ou seja, você ficará mais inteligente sim! Social: em atividades de recreação, diversão, alívio do tédio, oportunidade de comunicação e convivência, segurança, socialização e motivação. Xô, depressão!
Emocional: resgata o amor incondicional, atenção, redução da solidão, diminuição da ansiedade, relaxamento, alegria, reconhecimento de valor, troca de afeto e a criação de vínculos afetivos. Ou seja, vale a pena.

Fonte:Revista Única

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